quarta-feira, 11 de junho de 2025

A Hitoria não contada do Sanda chines.







 Durante a Revolução Cultural Chinesa (1966–1976), liderada por Mao Tsé-Tung, a prática de artes marciais — assim como muitas outras tradições culturais, religiosas e intelectuais — foi duramente reprimida ou proibida. Abaixo está um panorama completo sobre como isso afetou as artes marciais e a cultura chinesa como um todo.

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O que foi a Revolução Cultural? A Revolução Cultural foi um movimento político e social iniciado por Mao Tsé-Tung com o objetivo de: Reafirmar seu controle sobre o Partido Comunista Chinês. Eliminar elementos "burgueses", "capitalistas" ou "tradicionalistas" da sociedade chinesa. Promover uma cultura 100% alinhada com os ideais do comunismo radical. Para isso, Mao mobilizou especialmente a juventude, criando os Guarda Vermelhos, que passaram a destruir tudo que fosse considerado parte das "Quatro Velharias" (四旧): Velhos costumes Velha cultura Velhos hábitos Velhas ideias

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E as artes marciais? As artes marciais tradicionais chinesas, também chamadas de Kung Fu (功夫) ou Wushu (武术), eram vistas como parte da velha cultura — ligadas a filosofias antigas (como o taoismo, o confucionismo e o budismo), mitos, rituais e até superstições. O que aconteceu com os mestres e as academias? Academias foram fechadas. Livros sobre artes marciais foram queimados. Mestres foram perseguidos, humilhados publicamente, enviados para campos de reeducação ou mortos. Muitos foram obrigados a abandonar completamente o ensino e a prática. Praticantes que tentavam continuar em segredo corriam risco de prisão. Exemplo: O estilo Wing Chun, que viria a se tornar famoso no Ocidente por meio de Bruce Lee, quase desapareceu nesse período. Vários mestres, como Ip Man, já haviam fugido para Hong Kong antes da revolução, e foi lá que muitos estilos tradicionais se preservaram.

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Substituição por "Wushu moderno" Nos anos finais da Revolução Cultural (e especialmente após sua queda), o governo chinês tentou reintroduzir uma forma "controlada" e "esportiva" de artes marciais: Criou-se o Wushu moderno – mais artístico, coreografado, e menos voltado para autodefesa ou tradição espiritual. Estilos tradicionais foram "padronizados", muitas vezes diluindo suas origens filosóficas. As artes marciais passaram a ser ensinadas em escolas e competições, mas sob rígido controle estatal.

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Fim da Revolução Cultural e consequências Após a morte de Mao em 1976 e a prisão da chamada "Gangue dos Quatro", a China começou um lento processo de reabilitação cultural: Muitos mestres voltaram a ensinar, agora em ambientes mais tolerantes. Algumas tradições perdidas foram reconstruídas a partir da diáspora (Hong Kong, Taiwan, Malásia). Nos anos 1980 e 1990, o interesse por Kung Fu explodiu no Ocidente, com filmes e academias ressurgindo.

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Curiosidade: impacto espiritual e filosófico A Revolução Cultural não proibiu apenas a prática física das artes marciais. Também: Proibiu ensinamentos filosóficos clássicos ligados ao taoismo, zen-budismo e confucionismo — todos base de várias escolas marciais. Desencorajou práticas como Qi Gong, meditação, tai chi tradicional e outros aspectos internos (nei gong).

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Conclusão Sim, a Revolução Cultural restringiu severamente as artes marciais na China, vendo-as como símbolos do passado feudal e "supersticioso". Muitos estilos quase desapareceram, e só foram resgatados depois da abertura da China e do esforço de mestres no exterior. Durante e após a Revolução Cultural, a China realmente perdeu parte significativa da prática real e efetiva das artes marciais tradicionais. Quando o país decidiu, nas décadas de 1970 e 1980, desenvolver um sistema de combate moderno, prático e esportivo, os chineses consultaram, sim, especialistas soviéticos e se inspiraram no Sambo russo, entre outras fontes. O resultado foi a criação do Sanda (ou Sanshou). Então resumindo. O Sanda que é ensinado e praticado hoje em dia, não tem ligação com o Sanda antigo originario da China, mas sim é uma criação pós revolução, e foi inspirado no Sambo russo (pois os chineses já haviam perdido o conhecimento de combate marcial por conta da revolução cultural).



No que diz respeito ao conteúdo dos estilos de Kung Fu / Wu Shu antes da revolução cultural:


📜 Antes da Revolução Cultural (antes de 1966)

  • Cada estilo tradicional (como Hung Gar, Choy Li Fut, Baguazhang, Xing Yi, Taiji, entre outros) costumava ter um número limitado de formas (taolu), frequentemente entre 3 e 8, dependendo do sistema.

  • O foco era na aplicação prática (yong fa), e muitas formas tinham múltiplas aplicações condensadas.

  • Os estilos eram ensinados de forma muito reservada, quase sempre de mestre para discípulo, com forte ênfase em aplicações de combate (chin na, qinna, tui shou etc.).


🔥 Durante a Revolução Cultural (1966–1976)

  • O governo comunista de Mao Tsé-Tung considerava as artes marciais tradicionais expressões feudais e supersticiosas, muitas vezes ligadas à religião, como o taoismo ou o budismo.

  • Academias foram fechadas, mestres perseguidos, e a prática tradicional foi proibida ou severamente limitada.

  • Alguns mestres emigraram (para Taiwan, Hong Kong, EUA), levando consigo a tradição intacta. Já os que ficaram ou esconderam a prática ou modificaram o conteúdo para sobreviver.

  • Nesse período, a arte marcial passou a ser usada como instrumento político-cultural, com enfoque em exibição e saúde física, não mais combate.


🥋 Pós-Revolução Cultural / Era Moderna (anos 1980 em diante)

  • A partir de Deng Xiaoping, o governo chinês (percebeu o erro medonho cometido décadas antes e) reabilitou o kung fu como patrimônio cultural.

  • Surgiu o Wushu moderno, com dezenas de formas padronizadas voltadas a performance e competição.

  • Estilos tradicionais foram recompostos, e muitos professores (por desejo de popularizar, por exigência estatal ou conveniência) começaram a:

    • Criar novas formas para facilitar a graduação dos alunos.

    • Dividir formas longas em partes.

    • Incorporar formas de exibição, acrobáticas ou mistas.

  • Isso levou muitos estilos a crescerem de 3–8 formas para 20, 30 ou mais, principalmente em escolas voltadas a público internacional. Certos estilos atuais tem maiois de 50 formas diferentes com muitos movimentos, porém, sem aplicação prática ou sentido dentros dos combates ou defesa pessoal.


✅ Conclusão

Portanto, sim, é verdade que:

  • Os estilos tradicionais tinham poucas formas, e seu número aumentou significativamente após a Revolução Cultural.

  • O aumento foi motivado por razões didáticas, políticas e comerciais, muitas vezes distanciando-se da aplicação marcial original.

  • A padronização do Wushu moderno e o ensino para estrangeiros contribuíram para o inchaço do número de formas.

Se você busca kung fu com conteúdo combativo original, o ideal é procurar linhas tradicionais com linhagem documentada, muitas das quais estão fora da China (em Hong Kong, Taiwan ou nos EUA e Austrália).





Veja a baixo alguns dos estilos mestres e escolas que ainda possuem a parte combativa e a arte em si preservadas;


🥋 1. Wing Chun Tradicional

Duncan Leung (Discípulo de Ip Man)

  • Foco prático, combate real e estruturas fixas de aplicação.

  • Estilo: Wing Chun Combat.

  • Ensina a aplicação de cada movimento, sem floreios.

  • Sede nos EUA, com ramificações no mundo.

Wong Shun Leung

  • Também discípulo de Ip Man.

  • Mestre de Bruce Lee.

  • Desenvolveu o “Ving Tsun Science”.

  • Altamente respeitado por sua abordagem direta e voltada a combate.

  • Linhagem ativa em Hong Kong e Austrália.

David Peterson

  • Discípulo direto de Wong Shun Leung.

  • Mantém a abordagem analítica e científica do sistema.

  • Escritor de referência sobre a tradição original.


🥋 2. Hung Gar Tradicional (Estilo do Sul)

Lam Chun Fai (Filho de Lam Jo, sobrinho-neto de Lam Sai Wing)

  • Hung Gar de linhagem direta.

  • Poucas formas, mas foco absoluto em condicionamento, técnicas de ponte, resistência e luta.

  • Baseado em Hong Kong.

Chiu Chi Ling

  • Outro mestre tradicional de Hung Gar.

  • Preservação das formas antigas, sem adição moderna.

  • Vive na Califórnia, com ramificações no Brasil e Europa.


🥋 3. Xing Yi Quan (Estilo Interno)

Di Guoyong

  • Um dos maiores representantes vivos do Xing Yi tradicional.

  • Formas simples e curtas com aplicação direta.

  • Combinado com práticas de “fighting sets” e aplicações reais.

Sun Lutang (Histórico, mas seu legado permanece)

  • Pai do Xing Yi moderno e sua integração com Bagua e Taiji.

  • Não inventou muitas formas, preferia praticar poucas, mas com profundidade.


🥋 4. Baguazhang

He Jinbao

  • Mestre da linhagem Yin Style Baguazhang.

  • Enfatiza uso de armas, movimentação circular e luta com aplicação prática.

  • Foco nos 8 animais e técnicas de combate.


🥋 5. Liu He Ba Fa (Menos conhecido, mas altamente tradicional)

Master Li Dao Li

  • Um dos poucos guardiões deste estilo antigo, que mistura elementos de Taiji, Xing Yi e Bagua.

  • Estilo reservado, sem grande difusão internacional.

  • Poucas formas, foco interno e marcial verdadeiro.


🥋 6. Choy Li Fut Tradicional

Mak Hin Fai

  • Mestre tradicional que manteve a estrutura original do sistema.

  • Usa poucas formas com treinamento de saco de areia, boneco, e aplicações marciais reais.


🥋 7. Tai Chi Chuan (com foco em combate)

Chen Style (Família Chen)

  • Linha de Chen Xiaowang e Chen Ziqiang (neto de Chen Fake).

  • Foco em fa jin (explosão de força), empurrar mãos e luta.

  • Totalmente diferente do "Tai Chi de academia".


🎯 Recomendações Finais

  • Evite escolas que enfatizem somente performance, dança ou roupa bonita.

  • Procure sempre por:

    • Aplicações práticas (yong fa).

    • Menor número de formas.

    • Preservação de linhagem.

    • Treinamento de sparring, qinna, armas, e força.