Durante a Revolução Cultural Chinesa (1966–1976), liderada por Mao Tsé-Tung, a prática de artes marciais — assim como muitas outras tradições culturais, religiosas e intelectuais — foi duramente reprimida ou proibida. Abaixo está um panorama completo sobre como isso afetou as artes marciais e a cultura chinesa como um todo.






No que diz respeito ao conteúdo dos estilos de Kung Fu / Wu Shu antes da revolução cultural:
📜 Antes da Revolução Cultural (antes de 1966)
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Cada estilo tradicional (como Hung Gar, Choy Li Fut, Baguazhang, Xing Yi, Taiji, entre outros) costumava ter um número limitado de formas (taolu), frequentemente entre 3 e 8, dependendo do sistema.
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O foco era na aplicação prática (yong fa), e muitas formas tinham múltiplas aplicações condensadas.
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Os estilos eram ensinados de forma muito reservada, quase sempre de mestre para discípulo, com forte ênfase em aplicações de combate (chin na, qinna, tui shou etc.).
🔥 Durante a Revolução Cultural (1966–1976)
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O governo comunista de Mao Tsé-Tung considerava as artes marciais tradicionais expressões feudais e supersticiosas, muitas vezes ligadas à religião, como o taoismo ou o budismo.
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Academias foram fechadas, mestres perseguidos, e a prática tradicional foi proibida ou severamente limitada.
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Alguns mestres emigraram (para Taiwan, Hong Kong, EUA), levando consigo a tradição intacta. Já os que ficaram ou esconderam a prática ou modificaram o conteúdo para sobreviver.
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Nesse período, a arte marcial passou a ser usada como instrumento político-cultural, com enfoque em exibição e saúde física, não mais combate.
🥋 Pós-Revolução Cultural / Era Moderna (anos 1980 em diante)
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A partir de Deng Xiaoping, o governo chinês (percebeu o erro medonho cometido décadas antes e) reabilitou o kung fu como patrimônio cultural.
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Surgiu o Wushu moderno, com dezenas de formas padronizadas voltadas a performance e competição.
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Estilos tradicionais foram recompostos, e muitos professores (por desejo de popularizar, por exigência estatal ou conveniência) começaram a:
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Criar novas formas para facilitar a graduação dos alunos.
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Dividir formas longas em partes.
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Incorporar formas de exibição, acrobáticas ou mistas.
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Isso levou muitos estilos a crescerem de 3–8 formas para 20, 30 ou mais, principalmente em escolas voltadas a público internacional. Certos estilos atuais tem maiois de 50 formas diferentes com muitos movimentos, porém, sem aplicação prática ou sentido dentros dos combates ou defesa pessoal.
✅ Conclusão
Portanto, sim, é verdade que:
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Os estilos tradicionais tinham poucas formas, e seu número aumentou significativamente após a Revolução Cultural.
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O aumento foi motivado por razões didáticas, políticas e comerciais, muitas vezes distanciando-se da aplicação marcial original.
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A padronização do Wushu moderno e o ensino para estrangeiros contribuíram para o inchaço do número de formas.
Se você busca kung fu com conteúdo combativo original, o ideal é procurar linhas tradicionais com linhagem documentada, muitas das quais estão fora da China (em Hong Kong, Taiwan ou nos EUA e Austrália).
Veja a baixo alguns dos estilos mestres e escolas que ainda possuem a parte combativa e a arte em si preservadas;
🥋 1. Wing Chun Tradicional
● Duncan Leung (Discípulo de Ip Man)
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Foco prático, combate real e estruturas fixas de aplicação.
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Estilo: Wing Chun Combat.
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Ensina a aplicação de cada movimento, sem floreios.
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Sede nos EUA, com ramificações no mundo.
● Wong Shun Leung
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Também discípulo de Ip Man.
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Mestre de Bruce Lee.
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Desenvolveu o “Ving Tsun Science”.
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Altamente respeitado por sua abordagem direta e voltada a combate.
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Linhagem ativa em Hong Kong e Austrália.
● David Peterson
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Discípulo direto de Wong Shun Leung.
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Mantém a abordagem analítica e científica do sistema.
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Escritor de referência sobre a tradição original.
🥋 2. Hung Gar Tradicional (Estilo do Sul)
● Lam Chun Fai (Filho de Lam Jo, sobrinho-neto de Lam Sai Wing)
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Hung Gar de linhagem direta.
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Poucas formas, mas foco absoluto em condicionamento, técnicas de ponte, resistência e luta.
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Baseado em Hong Kong.
● Chiu Chi Ling
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Outro mestre tradicional de Hung Gar.
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Preservação das formas antigas, sem adição moderna.
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Vive na Califórnia, com ramificações no Brasil e Europa.
🥋 3. Xing Yi Quan (Estilo Interno)
● Di Guoyong
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Um dos maiores representantes vivos do Xing Yi tradicional.
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Formas simples e curtas com aplicação direta.
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Combinado com práticas de “fighting sets” e aplicações reais.
● Sun Lutang (Histórico, mas seu legado permanece)
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Pai do Xing Yi moderno e sua integração com Bagua e Taiji.
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Não inventou muitas formas, preferia praticar poucas, mas com profundidade.
🥋 4. Baguazhang
● He Jinbao
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Mestre da linhagem Yin Style Baguazhang.
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Enfatiza uso de armas, movimentação circular e luta com aplicação prática.
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Foco nos 8 animais e técnicas de combate.
🥋 5. Liu He Ba Fa (Menos conhecido, mas altamente tradicional)
● Master Li Dao Li
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Um dos poucos guardiões deste estilo antigo, que mistura elementos de Taiji, Xing Yi e Bagua.
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Estilo reservado, sem grande difusão internacional.
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Poucas formas, foco interno e marcial verdadeiro.
🥋 6. Choy Li Fut Tradicional
● Mak Hin Fai
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Mestre tradicional que manteve a estrutura original do sistema.
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Usa poucas formas com treinamento de saco de areia, boneco, e aplicações marciais reais.
🥋 7. Tai Chi Chuan (com foco em combate)
● Chen Style (Família Chen)
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Linha de Chen Xiaowang e Chen Ziqiang (neto de Chen Fake).
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Foco em fa jin (explosão de força), empurrar mãos e luta.
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Totalmente diferente do "Tai Chi de academia".
🎯 Recomendações Finais
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Evite escolas que enfatizem somente performance, dança ou roupa bonita.
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Procure sempre por:
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Aplicações práticas (yong fa).
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Menor número de formas.
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Preservação de linhagem.
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Treinamento de sparring, qinna, armas, e força.
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